Coisas da Vida

Olá seja bem vindo! Este blog nada mais é do que um espaço do qual sem pretensões ou empáfia, compartilho de coisas que vejo, coisas que ouço, coisas que vivencio, nesta jornada existencial!

sábado, 31 de março de 2012

Amor e tristeza!


“Amor é a coisa mais alegre. / Amor é a coisa mais triste./  Por causa dele falo palavras como lanças. /  Amor é a coisa mais alegre. /  Amor é a coisa mais triste./ Amor é coisa que mais quero. / Por causa dele podem entalhar-me,/ sou de pedra sabão. / Alegre ou triste, / amor é a coisa que mais quero.”  (Adélia Prado)

Concordo.  Que coisa melhor poderá haver?
Mas o danado – coisa estranha – é como o vento.  Uma hora vem, outra hora vai, e não há artes no mundo que o possam agarrar.  Como dizia o Fernando Pessoa:  “Leve, leve, muito leve, / um vento muito leve passa, / e vai-se, sempre muito leve...”
Onde é que mora para que possamos buscá-lo?  Sei que mora em algum lugar, mas lá não se pode chegar... Até se pode, mas o jeito ficou desacreditado. 
Amor mora no país das palavras.  Palavras – não são elas “pontes e arco-íris que se estendem sobre coisas eternamente separadas?” Melhor que uma ponte de palavras, arco-íris onde nunca se chega, é um anel.  Diamante.  No dedo, para não sair nunca mais.   Mas o amor não é assim.  Vai e vem.  E é por isso que dói tanto.  Quando vem é a coisa mais alegre.   Quando vai é a coisa mais triste.  Pôr-de-sol.  Mais se parece com uma gota de chuva numa folha de couve, o raio de sol se decompondo nas sete cores do arco-íris.  Mas, tente pegá-la...Tente colocá-la no anel. Quem pega perde.  Vento engarrafado não serve para empinar pipas e nem faz o cabelo voar...Gota de chuva brilhando em folha de couve a gente só pode olhar e se extasiar.  Alguns pensam que o casamento faz o milagre, que é capaz de por a gota de chuva no anel.  Que ele consegue engaiolar o vento.  E até inventaram esta palavra terrível que vamos repetindo sem nos lembrar do que significa: conjugal, com-jugo, sob a mesma canga, como parelha de bois amarrados...Tanta festa com vídeo, todos iguais, diferença só na cor das roupas, a noiva está linda (todas), salgadinhos e champanhe, discurso do pastor que ninguém ouve, os fotógrafos, irreverentes, atrapalhando tudo, o importante é mostrar o álbum colorido, depois.  Mas toda a mágica não adianta.  A gota de chuva ri, o vento dança...   
O amor mora num outro lugar: as palavras.  Por isso que o Milan Kundera diz que começamos a amar uma mulher no momento em que ligamos seu rosto a uma metáfora poética.  Amamos uma pessoa pela poesia que vemos escrita no seu corpo.  Bem diz a Adélia Prado que “erótica é a alma”.  Estranho isso, porque se pensa que o amor mora é no corpo e até se dá o nome de “fazer amor” a união de dois corpos.  Mas o corpo é como a flauta, o órgão, o violão, o violino – coisa que só fica bonita quando dele sai música.  Amamos um corpo pela música que nos faz ouvir.
Amamos uma pessoa pelas palavras que a ouvimos dizer, por vezes em silêncio. A alma ouve as palavras que moram dentro dos olhos: “Como é bom que você existe.  O universo inteiro fica luminoso, por sua causa.  Vou chorar quando você se for.  Terei saudades.  Ficarei com um pedaço arrancado de mim.  Será triste.  Tristeza que não abandonarei por nada, pois ela marca a sua presença, que se foi.”.  Amor não é o prazer que se sente no corpo, é a alegria que se sente na alma.  A gente se sente bonito.  O outro é um espelho onde nos contemplamos, e nos seus olhos a nossa imagem se transfigura.
Mas, aí, sem que se saiba por que, a gota de chuva cai, o vento se vai, e ficamos de mãos vazias.  E só nos resta esperar.  Como esperamos que o ipê floresça de novo.  As flores desapareceram, mas voltarão. Amor é isto: a dialética entre a alegria do encontro e a dor da separação.  De alguma forma, a gota de chuva aparecerá de novo, o vento permitirá que velejemos de novo, mar afora.  Quem não pode suportar a dor da separação não está preparado para o amor.  Porque o amor é algo que não se tem nunca.  É vento de Graça.  Aparece quando quer, e só nos resta ficar à espera.  E quando ele volta a alegria volta com ele.  E sentimos que valeu a pena suportar a dor da ausência, pela alegria do reencontro.
Agora quero falar um pouco sobre tristeza: a tristeza é sempre bela, pois ela nada mais é que o sentimento que se tem ante uma beleza que se perdeu... tristeza é isso: estar diante de um espaço onde um dia houve um encontro. Saber que cedo ou tarde, tudo o que está presente ficará ausente. As pequenas despedias apenas acordam em nós a consciência de que a vida é uma despedida. Tristeza é isto, quando o belo e a despedida se coincidem. O que revela o nosso próprio segredo, dilacerado entre o belo, que nos tornaria eternamente felizes, e os nossos braços curtos de mais para segurá-lo. Bem dizia Goethe: “tudo o que está próximo se distancia”.
Tristeza não é um vazio qualquer é um pedaço arrancado de mim, mutilação do meu corpo. Lembro-me de Álvaro de Campos dizendo da dor que sentia ao ver os navios que se afastavam do cais. “Ah! Todo cais é uma saudade de pedra... todo atracar, todo largar de navio é – sinto-o em mim como meu sangue”. É só agora, Drummond, que compreendo o que você diz no seu poema “Ausência”, onde você afirma não lastimar o espaço vazio. Não deveria ser assim... acontece que, depois da partida, só fica a ferida, ferida que não se deseja curar, pois ela trás de novo à memória o belo que uma vez foi.

Este texto é construido a partir de pensamentos de varios autores, que ousadamente junto nesse pensamento sobre amor e tristeza.

Rogério Pinheiro

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